10.10.2009

Escuro.
A noite abraça-me nesta caminhada sem morada.
O som dos meus passos atormentam-me como o tic-tac da velha máquina.
Julgava caminhar com a liberdade. Não.
...és tu que me dás a mão.
Tu, que ainda não nasceste, que ainda não tens memória.
A tua beleza é impossivelmente infinita.
Nunca te vi mas revejo-te em todo o lado.
A cidade, luminosa, frenética, contudo quieta, assiste à minha busca.
A música não pára de tocar na minha cabeça...
Como que um chamamento.
Quem és tu? Onde vives?
Existes ou és apenas outra minha ilusão?
Não, não podes ser real.
Que elemento és tu?
Serás de pedra? serás de vento? serás de pau?
Serás uma bailarina aprisionada num corpo de pau e com cabelos de vento?

10.08.2009


Sou a bailarina na caixa de música.
O meu corpo é de pau e os meus cabelos de vento.

Mas a caixa de música está muda. Silêncio solidão.

A bailarina dorme. Feliz sonhando.
Dançando com o poeta ou mergulhada no tempo de menina.

Acorda bailarina.
Faz um pas de deux com o meu amor.

10.05.2009

E a música não pára de tocar... repete-se, repete-se e outra vez...
Quase que me enlouquece, que me possui.
Aqui já não respiro. Aqui já não te resisto.
E calmamente deito-me a teu lado.
Agarro-te com suavidade para te beijar com força, sem parar...
Apetece-me sentir-te com força...
E sentir o teu prazer nos teus sorrisos...
De repente, a tua língua em mim...Uma textura fina...Tão tua...Tão minha...
Sinto o teu respirar ofegante, a marcar-me o ritmo dos meus lábios…
E sinto uma das minhas mãos no teu cabelo...com a outra, sinto o meu corpo...devagarinho... Num acto muito nosso...
Neste quarto, pesado e penosamente escuro, divirto-me a pensar no possível prazer que eu te provoco...
A música finalmente pára. Tu dissolves-te no silêncio.
Estou temerosamente excitada.
Tenho de deixar este quarto.


O bater das teclas daquela velha máquina de escrever sufocavam-me.
O ar estava denso e pesado. Já não conseguia recordar aquela noite.
Fechava os olhos e tentava reviver aquela ilusão. Mas só restava o vazio. Como se a chuva, que caía lá fora, esborratasse aquele quadro por nós pintado.
Pelo quadrado da janela, a tinta vermelha do fim de tarde, pintava os edifícios escuros, as pessoas que passavam, o rio que parava.
O fogo, ardia também cá dentro. Só este momento, ao anoitecer, era real para mim.
A luz era, como o meu passado, uma dúvida. Tentava enfeitiça-la, pedindo-lhe para durar.